UMA FREGUESIA QUE NÃO EXISTE

NO PAPEL...

domingo, 16 de outubro de 2011

TÃO ACTUAL ESTE TEU ANTIGO POEMA, PAI



IMAGENS DA VIDA REAL

Num mutismo silencioso , sepulcral, funéreo
Lias de orvalho prateado dos olhos caindo
Pelo rosto cadavérico, cheirando a cemitério,
Que as sombras da morte vão já cobrindo.

Arrastando o seu corpo dorido vegeta
O velho e triste operário esquecido
Logrando alcançar no pouco que lhe resta
Um tanto daquilo que lhe é devido.

O não se envergonhar de ser reformado,
O direito a uma velhice digna e feliz,
O não ter de se sentir como um exilado
Dentro da sua terra e do seu país.

O direito a viver como qualquer cidadão,
O direito de estar integrado na sociedade,
O de cada dia que passa ter pão
Sem ter que implorar caridade.

De quem passa a vida a trabalhar
Ter reforma é seu pleito.
Ninguém pode nem deve espoliar
Aquilo a que o ser humano tem direito.

Que aos deuses chegue o brado
De tanta injustiça sem nome
Porque também ter fome é pecado
E há tanta, tanta gente com fome...

3 comentários:

  1. Joao Pedro Carvalhinho8 de novembro de 2011 às 20:34

    Das recordações que guardo com maior apreço da minha infancia que muito foi passada junto dessas duas pessoas que amo profundamente (avô e avó) é sem duvida aquando da comemoração das bodas de ouro no final do jantar, Ele se ergue e profere um dos seus poemas (se bem me recordo o seu famoso poema há terra natal) e com a sua voz embrenhada nas lagrimas que caiam encheu toda a sala com uma enorme salva de palmas (e lágrimas) daqueles que o presenciaram...

    diga-se que é uma das fotografias temporais que guardo com mais carinho!

    um abraço

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  2. João, não tenho a certeza de que esse tenha sido o poema que ele recitou. Penso que o que nos levou a todos começar a chorar, foi mesmo o facto de ele falar sobre a história de vida que os dois tiveram ao longo de 50 anos, com as felicidades e agruras que todos passámos.
    No entanto aqui fica o poema de que falas:

    Terra Mãe

    É com os olhos rasos de água
    E o coração cheio de mágoa
    Que eu canto esta verdade.
    Para mim és terra bendita
    Porque nascer em ti tive a dita
    E tenho de ti imensa saudade.

    Tenho outra terra adoptiva
    Mas p'ra mim és a mais querida
    De todas que o mundo tem.
    Embrenhada entre montanhas
    Tenho de ti saudades tamanhas
    Porque és a minha terra mãe.

    Em ti vi a luz do dia
    E dei bocejos de alegria
    Na minha infância inocente.
    Também tive as amarguras
    E Conheci as agruras
    De ser órfão adolescente.

    Entre o verde dos pinhais
    Dos vinhedos e olivais
    Onde o ar dá mais saúde.
    Dávamos grandes passeios,
    Brincadeiras, devaneios,
    Nos tempos de juventude.

    E as horas bem passadas
    Apanhando as orvalhadas
    Em noites de S. João...
    Ao Cheirinho do manjerico
    Havia sempre bailarico
    Como era tradição.

    Com lindas moçoilas, belas
    Cintilantes como estrelas
    Com quem muito eu dancei!
    Pareciam mouras encantadas
    Dos lindos contos de fadas
    Que tantas vezes escutei...

    De uma boca hoje calada
    Tantas vezes por mim beijada
    Que o teu seio já contém!
    Era uma pobre velhinha
    Que para mim era rainha,
    Era a minha querida Mãe...

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  3. é possivel sim...confundi-me com a beleza das palavras que ele diz...sem duvida que este para mim é dos poemas mais bonitos dele...obrigado mais uma vez por partilhares connosco estes tesouros que muito me alegram ao ler por recorda-me muitas coisas que passei junto deles...um grande abraço

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