Mentiste-me Pai!
Quando em criança me dizias,
que depois de anos e anos em luta,
iria-mos ter um país mais solidário,
mentias-me pai!
Quando eu dizia que tinha medo da polícia,
tu acorrias logo a conformar-me e dizias
"Não filho! Agora não precisas de ter medo!
Era a mim que eles perseguiam!"
E eu perguntava "mas porquê Pai?
Ao que respondias que tinhas lutado contra esses
"bufos, lacaios e tartufos",
em nome de um Portugal mais justo.
Também aí me mentiste Pai!
Quando lá em casa ouvia-mos o Grândola Vila Morena,
todos ficava-mos arrepiados!
Dizias que era o símbolo da liberdade.
No entanto, mentias-me Pai!
Se te perdoo Pai?
Claro que sim!
Mentias-me, sem saber que o fazias.
Também a ti te houveram mentido!
Também tu foste intrujado!
Não há esse país que tu idealizavas!
A esperança que tinhas num país melhor,
volta a fenecer.
Afinal Pai, não eram mentiras!
Eram esperanças!
Em cuja concretização,
me custa a acreditar...
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